A Moda da Casa de Vó!

Não sei se você percebeu, mas tem vindo uma tendência muito forte em resgatar casas que tenham aquele ar de casa de vó. Mas será que essa é a melhor solução? Ou é apenas uma busca nostálgica? Uma forma de resolver o vazio das casas brancas, cinzas e cheias de porcelanato polido?

Vamos entender...

Na realidade, o que tem por trás do retorno da casa de vó não é a mera vontade de colocar crochê no filtro de água ou de abarrotar a casa com rendas e decorações nada harmônicas. Depois da última década, que trouxe uma quantidade avassaladora de novidades, mudanças de comportamento bruscas e uma tecnologia que evoluiu de forma descompassada com o que podíamos assimilar, vieram as consequências boas mas também ruins: índices de ansiedade dispararam, pessoas vivem solitárias em grandes cidades, focadas na ascensão profissional e nas infinitas possibilidades de restaurantes gourmet que podem visitar no final de semana, e o que era para ter resolvido a maioria dos problemas, aproximado as pessoas, as deixou mais doentes e infelizes!

Por essa razão, automaticamente as pessoas começaram a puxar em sua memória o que as deixavam felizes, e a ascensão da casa de vó vem aí: aquela simplicidade em fazer as coisas, aquela casa simples, mas cheia de significado, o afeto, o bolo quentinho garantido quando passávamos na casa dela, junto daquele café doce que doía até a garganta, mas que tinha muito amor.

Bom, já entendemos de onde isso vem. Mas será que é por aí mesmo? Temos que tomar muito cuidado com o saudosismo, e a vontade de voltar num tempo que não existe mais.

O que as pessoas querem não é o móvel antigo, mas um lar, que se sintam pertencidas e conte a história delas, que tenham a sua identidade. Por isso, nem sempre a casa de vó vai ser a resposta para você – na maioria das vezes não é. Mas sim uma casa que fuja das escolhas do efeito manada.

Na prática...

É preciso treinar o olhar para saber de onde partir. Podemos começar pelo retorno de escolhas duradouras. A decoração da sua casa deve ser um investimento de longo prazo, constante, e merece ser saboreada. Um bom início é através de investimentos menores, mas que farão toda a diferença: abajures com cúpulas de tecido, quadros de paisagens ou gravuras colecionadas em viagem (fuja dos quadros padrões: paz, amor, gratidão) – algo que tenha de fato um significado e diga mais sobre você e seus valores.

Pensando na arquitetura, não precisamos nos forçar a viver em casas estritamente clássicas, rococó. Mas uma bela casa em estilo tradicional brasileiro, com janelas amplas, mais coloridas, com belos jardins e varandas já trarão a alegria de chegar em casa, que as construções monótonas e cinzas de hoje em dia não conseguem trazer.

No meio dessa busca pela casa de vó, as palavras “clássico e tradicional” também têm voltado em voga. Vale lembrar que clássico e tradicional são estilos diferentes na arquitetura – mas isso fica para uma próxima conversa – e nem sempre são a resposta para o seu aconchego.

E por fim, casa de vó não é viver numa casa antiga e cheia de cacarecos. “Sua nova casa de vó” pode ser acolhedora, se preocupando com os pequenos detalhes – a marcenaria mais rebuscada, puxadores com texturas e ornamentos, iluminação quente, combinação de móveis antigos com móveis novos – e assim ressignificando uma casa que verdadeiramente se transformará em lar!



Ana Sabrina Pianizzola
Arquiteto urbanista